sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A MÚSICA EMBALA OS USUÁRIOS DO TRANSPORTE PÚBLICO

Há alguns anos, o Brasil vem acompanhando os avanços tecnológicos – o que têm propiciado a evolução em todos os ramos das comunicações, e não separadamente, o aumento desenfreado do consumo dos produtos oriundos desse processo.

Desde os mais baratos modelos de Mp3 e seus seguimentos, até os menos acessíveis como o I-Phone, entre outros, são consumidos pela maioria dos brasileiros. E não é à toa, que o número de pessoas que possuem o aparelho portátil capaz de reproduzir músicas é exorbitante.

Com o advento da internet é possível ter acesso a todas as músicas produzidas por artistas nacionais e internacionais, bastando para isso, alguém disponibilizá-las na rede. Depois, é só fazer a transferência – gratuita – para o aparelho, através do computador.

Esse fenômeno pode ser observado no transporte público - trêm, metrô e ônibus - meio que abriga grande concentração da população urbana, que dentre a vida corrida e alucinada do dia-a-dia, relaxa enquanto está a caminho do campo de batalha.

Antigamente, as pessoas quando usavam o transporte público, seja para trabalhar, estudar ou para qualquer outro fim, escolhiam um livro para se distrair na viagem, ou então optavam pelos já ultrapassados “cd players” e “walk-mans” com aquelas fitas que demoravam a retroceder, quando você queria ouvir uma certa música novamente.
Mas hoje, a coisa mudou. São inúmeros os tipos de aparelhos possíveis para substituir esses itens. Entre eles, os mais famosos são o Mp3 e o próprio celular que, após tantas mudanças, tem o mesmo dispositivo capaz de armazenar centenas de músicas.

Fato é que todo esse processo perturba a indústria fonográfica, que perde com a venda de CD’s. E não é por menos, pois basta parar e olhar para os lados, e ver o número de pessoas com fones nos ouvidos. Parece até que o trem virou um grande baú de canções, onde é possível encontrar os mais variados estilos musicais. E é só ir se aprofundando, que a ramificação torna-se cada vez maior.

O trem abriga pessoas com estilo diferente de sons, mas há também a diversificação dentro do próprio estilo. Assim como acontece com Raquel Muniz e Kelly Silva, que confessam não conseguirem sair de casa sem o Mp3. Ambas dizem gostar de Samba e Pagode - aliás, pelo mesmo motivo: o de animar a manhã, mas preferem grupos e artistas diferentes. “É muito louco isso, eu direto me pego olhando para o lado, tentando adivinhar se eu gostaria do que aquela pessoa está ouvindo”, diz Raquel.

Dentre os estilos mais populares, apurados sobre as linhas ferroviárias, encontram-se, em geral, o Rock, Samba, Pagode, MPB e Black, e em menor escala, Funk e Gospel. Porém, há distinções entre esses gêneros, e, portanto, entre os gostos de quem ouve também. Em uma estação na Zona Oeste de São Paulo foi possível avaliar isso de forma clara. Três pessoas diferentes ouviam o Rock - que parece ter perdido completamente o significado e hoje em dia, há “extensões” de seu estilo contrapondo opiniões e idéias, causando conflitos e a busca pelo espaço na cena musical – mas com aspirações completamente distintas.

A música preferida de Xavier Ferreira, por exemplo, é enquadrada no gênero. Porém, dá ênfase aos sentimentos e emoções da pessoa, completamente diferente das canções ouvidas por Antônio Policarpo, que têm uma sonoridade mais agressiva e pesada.
Já Lucas Santana, de 21 anos, estudante de comunicação, que através de suas vestimentas deixa claro que é do movimento punk, abomina esses estilos musicais e, enquanto ria, ironizava: “Isso aqui que eu estou ouvindo que é música de homem”.
Talvez Ana Regina, 36 anos, vendedora de cosméticos, faça parte de um grupo de pessoas que ouvem um gênero e nunca se contradiz. Ela ouve músicas gospel durante a viagem de trem, de Itapevi, onde mora, até a Estação Berrini, região aonde trabalha. “Toda hora é hora de ouvir Jesus”, diz a moça.

Porém, toda essa facilidade de obter os aparelhos e as músicas – o que possibilita às pessoas curtirem cada vez mais seu som, cada um a sua maneira - facilita o surgimento de impertinentes, que parecem querer mostrar a todos sua música preferida, mesmo que absolutamente ninguém queira saber.

Esse é o caso dos cidadãos - que assim como todos têm o direito de ouvi-lo desde que com “parcimônia” - que desconectam os fones do aparelho e deixam o vagão inteiro poluído sonoramente pelas escolhas musicais, que nem sempre agradam a todos.
De fato, essa é uma atitude muito inconveniente e, infelizmente, muito comum nas linhas de trem. Algumas pessoas que fazem isso não respeitam o próximo ou querem que os outros ouçam suas músicas preferidas, ou então simplesmente querem aparecer de alguma maneira.

Entretanto, o ato de ouvir a canção sem os fones é justificado, como é o caso de Edimilson Dias dos Santos, encarregado de produção de uma revendedora de artigos infantis na Zona Oeste de São Paulo. Ele não possui qualquer tipo de aparelho portátil para ouvir músicas, e como mora no Grajaú (extremo Sul) e necessita utilizar a Linha 9 do trem para trabalhar, acaba “sofrendo” com a música disponibilizada pela própria CPTM nos vagões da Linha.

“Tem gente como eu que não tem o Mp3. E para não sofrer com aquela ‘musiquinha’ que toca no trem, eu sempre peço para algum amigo que tenha esse aparelho ou celular, tirar o fone para gente poder ouvir qualquer canção, menos aquela lá”, comenta Edimilson. E casos como esse, pelo menos na Linha 9, são freqüentes, sempre justificados pela música clássica, tocada nas caixas de som dos vagões.

Existem, ainda, aqueles que ouvem sem fones por que os mesmos estão quebrados, ou esqueceram, ou estão com algum machucado no ouvido, entre outras justificativas. Mas é fato que essas pessoas parecem não conseguir viver sem os fluídos e os batidos causados pela música. E ainda há outros casos, de cidadãos que não conseguem desgrudar-se da canção – pessoas que lêem enquanto estão com o fone nos ouvidos. É só reparar, mas antes, tire os fones.