quinta-feira, 2 de outubro de 2008

VOCÊ SE LEMBRA EM QUEM VOTOU NA ELEIÇÃO PASSADA

Desde que iniciaram as campanhas políticas, você já se perguntou e conseguiu responder, sem esquecer nenhum nome, em quais candidatos votou na última eleição? Certamente a resposta será “sim”, você já se questionou. Porém, caso tenha lembrado, talvez só conseguiu responder o nome de um político.
Mas este não é um problema exclusivamente seu. A maioria do eleitorado sofre do que se pode chamar de ‘amnésia eleitoral’. Essa, aparentemente, simples perda de memória, pode refletir em quatro anos de um governo malsucedido. Mais do que isso, você pode ser o principal culpado por essa má administração.

A recepcionista Simone de Araújo diz que tomou consciência há pouco tempo, de que não se lembrava dos candidatos em que votou nas últimas eleições. “Me propus a estudar as propostas dos atuais candidatos, porém, no começo, tive dificuldade, pois antes não me interessava por política. Tive que fazer uma ‘longa caminhada’ até decidir os meus votos. Esta será a primeira eleição que votarei consciente”, disse.

A dificuldade em se interar com assuntos políticos também não é um problema exclusivo de alguns eleitores. Segundo o cientista político, José Paulo Martins Junior, professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), “a sociedade vive fora das decisões políticas, e essa falta de envolvimento pode ser, também, fruto do nosso passado político, marcado pela ditadura, pois todos que se engajavam sofriam torturas. Isso ainda assusta as pessoas”.

Mas o cientista também lembra momentos de glória da militância política, como os movimentos pelas ‘Diretas Já’ e os ‘Caras Pintadas’ - estes protestaram contra o governo Collor - e também faz uma relação dos possíveis culpados pela falta de interesse que parte da sociedade tem por política. “Além da complexidade do sistema eleitoral, os veículos de comunicação de massa, principalmente a TV, passaram a espetacularizar a política, que se tornou rentável a esses meios, que deixaram a sociedade mais descrente”.

No entanto, os eleitores também não escapam dessa lista. O cientista destacou a posição individualista que persegue o cidadão brasileiro, que não se envolve mais em ações coletivas, como, por exemplo, batalhar pelos interesses do bairro onde mora.
O pastor evangélico Nilton César Barbosa complementa o pensamento do cientista dizendo que “o grande ‘câncer’ da nossa geração é a falta de consciência política”

A falta de consciência política, segundo Ângela Esteves, estudante de história, também pode ser conseqüência do excesso de partidos e candidatos. “Isso pode atrapalhar a memória do eleitor. Às vezes, você vota em um candidato, acompanha sua trajetória, mas na próxima eleição ele não consegue se reeleger, porque surgiram outros, e os eleitores, esquecidos, acabam elegendo alguém que não conhecem”. A universitária também disse que esse “exagero” leva os partidos e candidatos a reforçar velhos discursos, e o eleitor fica sem critérios para votar, “logo, ele não vai se preocupar com as diferenças de cada um”.

Não se preocupar com as diferenças de cada um pode levar o eleitor a votar, por exemplo, nos candidatos indicados por amigos e parentes, como aconteceu com a assessora de imprensa Marise Vieira. “Hoje sou uma pessoa mais sensibilizada com a sociedade, então, acho que meu voto é importante, por isso, agora eu procuro um candidato que se ‘aproxime’ do que eu quero para minha cidade e para o meu país”, falou.

O professor Martins Junior não condena as pessoas que votam por indicações de outras. Ele acredita que “é válido pedir conselhos a amigos que entendem mais de política, pois estes, melhor que os programas do horário eleitoral podem apresentar o candidato e o plano de governo”.

Não se interessar em conhecer a trajetória do candidato é outro erro cometido pelo eleitor, que acaba decidindo seu voto na última hora. Alguns eleitores pensam que, nesse caso, os candidatos mais engraçados e os de idéias irrelevantes ganham vantagem. Já o professor Martins Junior diz que o famoso ‘santinho’ pode influenciar o voto. “Geralmente, os eleitores decidem mais pelo candidato à prefeitura, como é o caso dessas eleições. Ao chegar à zona eleitoral, eles decidem votar em algum candidato a vereador do mesmo partido”.

A história do candidato, segundo a opinião da maioria dos eleitores, é fundamental. Para isto, é preciso paciência e muita vontade de valorizar o voto. “O melhor caminho é pesquisar sobre a vida política dos candidatos e sua atuação na área social”, disse o pastor Nilton.

Outra alternativa, segundo o cientista político, depois de conhecer o candidato, é fazer um balanço, se perguntar sobre os benefícios que os políticos podem proporcionar ao município, ou ao Estado. “No caso de candidatos que nunca tiveram um mandato, é fundamental refletir sobre o que eles podem trazer de benefícios, e quais são as suas novidades”, explicou Martins.

Conforme recente pesquisa feita pelo Datafolha, os eleitores estão mais preocupados em conhecer os parlamentares. O estudo revelou que, na cidade de São Paulo, 62% dos entrevistados acompanham o horário eleitoral. Segundo o professor, esse número é elevado, mas tem fundamentos, pois o horário nobre acaba beneficiando os programas eleitorais. Além disso, quando se aproxima o dia das eleições, as disputas ficam mais acirradas, deixando o eleitor mais interessado. Martins também acredita que essa audiência não significa que o cidadão esteja mais consciente, “porque ele já é consciente”. Porém, considera relevante acompanhar as propostas dos candidatos.