quinta-feira, 18 de setembro de 2008

TER UMA LINHA TELEFÔNICA PODE SE TORNAR UMA DOR DE CABEÇA

Nos últimos tempos, é comum ver nos diferentes meios de comunicação, como jornais e televisão, a discórdia que causou a CPI dos Grampos, onde está sendo feita uma investigação das escutas ilegais ocorridas no Congresso Brasileiro.

O caso estourou depois que uma conversa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, com o senador Demóstenes Torres, foi gravada sem permissão e publicada em uma revista. Esse fato foi considerado uma falha no sistema democrático do nosso país, pois violou o direito de duas pessoas conversarem – não importando quem seja -, sem se preocupar com quem está escutando.

Mas se não existe a polícia vigiando as ligações telefônicas da maior parte da população, existe ainda a linha cruzada, a troca de números, redes ocupadas, ou até mesmo um “gato” telefônico. E você tem certeza que suas conversas não estão sendo ouvidas por ninguém?

Um estudo feito pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça, mostrou que o setor de telefonia, tanto fixa quanto celular, é o campeão das reclamações no Procon de 19 estados. Sandra Meller, professora, foi uma das pessoas que já brigou contra uma empresa telefônica por culpa de uma fatura com valores suspeitos. “A conta vinha com o valor altíssimo e não tinha como provar que não tínhamos usado o telefone de maneira abusiva. Tinha também números de celular que não conhecíamos”, comenta. A professora, que mesmo encaminhando o caso ao Procon, ainda não conseguiu resolver a situação. “A empresa entrou em contato conosco e disse que estava tudo correto. Como poderíamos provar o contrário? Não conseguimos provar nada, mas também não pagamos a conta”, comenta.

O caso de Sandra é muito corriqueiro, e na maioria das vezes, termina sem solução. “A empresa cortou o telefone definitivamente e o nome do meu marido ficou sujo. No final, tivemos que pagar as faturas para pegar outro número de telefone”, disse a assinante de uma linha telefônica. Sandra ainda comenta que acredita que seu telefone não foi clonado, e esse episódio não passou de um erro da própria empresa telefônica. “Nos sentimos de mãos atadas, pois não tinha como provar que aquelas ligações não eram nossas. Uns verdadeiros ‘idiotas’ sendo enganados por uma empresa tão grande. Infelizmente, tivemos que nos submeter a eles para conseguir outro número, e assim acontece com muita gente”, relata.

Mas diante de uma situação como a de Sandra, a primeira pergunta que pode vir à cabeça é: mas o que acontece para uma linha de telefone dar tantos problemas?
Um ex-funcionário da Telefônica, que solicitou a não divulgação do seu nome, para saber como funciona a manutenção das linhas. Ele conta que a empresa possui acesso a todas as linhas telefônicas através de caixas controle instaladas na rua, e que “o empregado pode, através das caixas, usar todas as linhas existentes. Porém, a Telefônica possui uma linha exclusiva em cada caixa, chamada linha piloto, onde o funcionário faz as ligações que precisa sem ter que utilizar a de terceiros”, explica.

Acontece que nem todos os funcionários respeitam essa regra. “Têm aqueles que se aproveitam para usar a linha do assinante para ligações pessoais. Na maioria dos casos são para celulares ou para doações. Quando isso acontece, quem paga a ligação é sempre o assinante da linha”, conta o ex-funcionário.

“Uma vez estava no telefone com uma amiga até que deu uma linha-cruzada. A conversa parecia ser séria, pessoas marcando uma reunião, sei lá. No fim, depois de ficar gritando para ver se as outras pessoas escutavam, nem aconteceu nada”, conta Beatriz Satie, que ainda completa: “ficamos brincando com o diálogo, interpretando o que podia ser a conversa deles. O pessoal nem sabia que estávamos escutando e ainda zoando com eles”.

A linha cruzada pode ocorrer por vários motivos. “Um deles é o caso de um empregado que está fazendo a manutenção, e por descuido, inverter os pares de algumas linhas, o que com certeza vai provocar o cruzamento. Até mesmo a má instalação interna pode ocasionar esse problema”, explica o ex-funcionário. Esses casos valem para nos lembrar como a linha telefônica pode ser frágil. Desconhecidos podem escutar uma conversa, tanto de assuntos delicados, como piadas entre amigos e parentes, sem ninguém ficar sabendo. Esse fato mostra o quanto o telefone, representando suas linhas, é um aparelho sujeito a defeitos como qualquer outro.

O “gato” telefônico também pode acontecer, deixando um buraco enorme nas faturas de certas linhas, e o bolso de algumas pessoas mais vazio. Para evitar fraudes, o conselho é que todo assinante tenha o controle do seu gasto mensal. “Caso desconfie que haja problemas, é só pedir uma inspeção. Diversas vezes, é possível achar o chamado ‘gato’ telefônico, que são pessoas usando a linha de outra indevidamente”, diz o ex-funcionário.

Para Sandra Meller, essa desconfiança e aviso à companhia não foram suficientes para que a empresa acreditasse que aquele gasto não era real. “A conta era cobrada em pulsos, então como a gente ia saber quantos minutos estávamos gastando? Chegou um momento que eu, meu marido e minhas filhas usávamos o telefone marcando os minutos das ligações. Foi a solução que encontrei para mostrar que aquela conta não era normal”, diz.