sábado, 17 de março de 2007

EDIÇÃO DE REVISTA

Jornalismo é um estilo de comunicação, e revista semanal é um estilo jornalístico. Por tanto, está vinculado ao tempo e a interpretação. A revista possibilita maior liberdade ao jornalista para associar suas idéias e experiências. Por isso, as técnicas literárias ajudam nesse processo.

As revistas resgatam o jornalismo interpretativo, em profundidade, de tal forma que os jornais diários não fazem. A revista exige texto elegante, sedutor, próximo da literatura, técnica apurada, talento, raciocínio lógico e aprofundamento na investigação do fato. Por ser semanal, preenche o vazio informativo deixado pelas coberturas dos jornais, rádio e televisão. Não precisa de um lead, e sim de uma abertura envolvente. E no fechamento, busque novas imagens, citações ou anedotas que se amarrem à idéia central.

PRIMEIRO AS IDÉIAS
O texto deve ser trabalhado com mais tempo para análise dos fatos. Criatividade, interpretação e recursos estilísticos compõem sua base. É um documento histórico, uma grande história. Deve-se preocupar primeiro com as idéias, e em seguida com a linguagem. Um roteiro serve para organiza o pensamento e as informações. Primeiro cria-se o clima, a tensão e por último a explicação para o leitor. É um exercício de raciocínio e inteligência.

O desenvolvimento do texto deve ser claro, organizado e encadeado. Usa-se o bom senso no uso das palavras e pontuações. Enumerar, descrever, detalhar, comparar, fazer analogias, criar contrastes, exemplificar, lembrar, ilustrar, dar testemunho e confrontar idéias faz parte desse estilo. Os verbos dicendi apóiam as declarações de pessoas. O texto deve possuir causa e efeito, um fecho remetendo ao início e ser finalizado na hora certa. Admite interpretação e ponto de vista do jornalista. Possui características intemporais, por isso procure uma boa angulação. Mantenha unidade, coerência das idéias. Use conjunções, advérbios, locuções adverbiais, pronomes, palavras denotativas e não esqueça das frases curtas e encadeadas.

Desconfie do seu texto, por isso revise quantas vezes for necessário, verifique se está organizado. Cheque a gramática, ortografia, fatos, citações, declarações e peça para outra pessoa ler. Corte as “gordurinhas”, dê polimento, apare as pontas. Use a leveza, retire alguns detalhes. Além de escrever bem é preciso ter habilidade com as palavras. Condense, mais traz novidades. A reportagem da revista deve acompanhar o fato, e ir além dele. Mas, não deve ter a palavra final. E, sim, ampliar o contexto da notícia.

ESTILOS DIFERENTES
Cada revista tem seu estilo, modo de ser e sua linguagem. Nesse contexto, a padronização e racionalização se tornam necessidades. A imprensa busca unidade, legibilidade e identidade do texto. A revista permite o uso das entrelinhas e apresentação da tendência da matéria, do jornalista e do veículo. A reportagem tem a função de desdobrar, pormenorizar e dá um relato aos fotos principais e subjacentes. Ela é uma narrativa, então, solte um pouco as amarras da padronização. A Reportagem Ação começa pelo mais atraente e a Documental aproxima-se da pesquisa. Mas, a investigação faz parte de qualquer reportagem.


NARRATIVA
Dissertação ou argumentação, descrição e narração são recursos que permitem a variação do olhar. No jornalismo, usa-se mais o gênero narrativo. Ou seja, quem conta a história – foco narrativo – que é a terceira pessoa. Outro elemento, importante, é o tempo que pode ser visto nas seguintes formas: lingüístico (passado, presente, futuro), psicológico (estados internos, individuais), físico (natureza: sol, dia...) e cronológico (calendário, marco social,...). A história é a sucessão de acontecimentos, personagens e cenários. O discurso é o modo como o narrador dá a conhecer a história. E as figuras de duração, são: sumário (o tempo da história que ocupa um pequeno espaço dentro da narrativa); alongamento (a história tem um curso vagaroso, mas rico em detalhes e descrições); cena (duração do acontecimento e espaço ocupado se aproximam).

A reportagem narrativa é um dos gêneros mais importante em jornalismo, e talvez o que se mais aproxima da literatura. A reportagem é prima-irmã do conto (predominante narrativo é um texto curto e denso. Aborda questões humanas. Começa com um problema. Tem início, clímax e desfecho).

Para o redator a linguagem é puro instrumento do pensamento, um meio de transmitir realidades. O escritor vê a linguagem como um lugar dialético, em que as coisas se fazem e desfazem – ficção. A base do discurso jornalístico é a simplicidade, relação com o real, o que é comum a todos, comprovação, precisão - é informativo. O jornalismo não faz ficção, não cria seus personagens.

CONCORRÊNCIA
Aos domingos, nos grandes jornais diários, as notícias são desdobradas em reportagens aproximando do estilo magazine. Trazem os cadernos e suplementos, com temas de interesse humano, entrevistas etc. Por isso concorrem com as revistas.

A revista é uma prática jornalística diferenciada por essa razão possui gramática própria do gênero da revista (estilo formal, coloquial, expressões da literatura e populares), fotografias, design, texto mais próximo da literatura, uso estético da palavra, recursos gráficos, programação visual. A revista divide-se em: ilustradas, especializadas e informação geral. Os assuntos visam à contemporaneidade e atualidade. O planejamento editorial inclui o ritmo gráfico; visual; capa atrativa; texto em tópicos frasais e documentais.

O diagnóstico de uma notícia envolve a captação, análise e seleção. Submeter os dados recolhidos a uma seleção crítica e depois transformá-los em matéria, significa interpretar. O jornalismo interpretativo determina o sentido do fato, por meio da rede de forças que atuam nele. Não há àquela correria de prazos; e procura identificar notícias que despertam interesse no leitor. A reportagem da revista informativa apresenta a notícia em profundidade, objetividade e ética. Puxa o cordão dos fatos, oferece diferentes ângulos, dados estatísticos, depoimentos e prognósticos. Diferente do jornal informativo diário, que é uma narrativa horizontal do acontecimento, tornando-o medíocre e limitado.

O leitor tende a buscar uma leitura complementar, e a revista vai preencher essa lacuna. Ela antecipa expectativa, razões e conseqüências que escapam á primeira vista no jornal. Arredonda a informação, faz prospecção para a semana seguinte, responde aos porquês dos fatos.

A revista enfrentou várias tendências. Concorreu com a TV, enfrentou custos altos e o noticiário diário. Atualmente é comercializada por meio de assinaturas e anunciantes. Mas, a tendência de uma revista é determinada por seus leitores. Nela o jornalista pode manifestar suas intenções políticas e ideológicas. Possui liberdade para escolher o tema, angulação, fontes, linha de raciocínio, propósito e comprovação do objeto. Porém, não o libera das balizas técnicas e éticas.

Os cadernos de cultura e suplementos dos jornais aproximam do estilo Magazine. Cinema, música, artes, ensaios, TV, livros são assuntos que tem leitores cativos. O texto é mais ensaísticos, opinativos, coloquial, solto e usa os neologismos. Já a revista trata da mesma maneira tanto a matéria de cultura quanto à de política. Isto é, acrescenta ao texto conteúdo complementar, ou angulação específica.

Revisas e jornais são diferentes. A revista é periódica e o texto mais atraente e criativo. A reportagem é desenvolvida com ritmo, beleza, refinamento, improvisação e liberdade. Apropria-se do diagnóstico, investiga e interpreta o assunto. Mas, não dispensa a técnica, inspiração, boas palavras, harmonia, sensibilidade, sofisticação, beleza, e unidade no pensamento. O texto da revista é diferencial, porque é conseqüência de um conteúdo bem elaborado e criterioso. Possui qualidade gráfica, técnica, artística, visual e textual.

A TV tem influenciado a fórmula das revistas atuais, por isso, elas têm deixado de ousar menos. Os fatos globalizados, os meios de comunicação e computadores tem refletido na produção jornalísticas das revistas. Mas, o jornalismo não pode se curvar ao imediatismo do tempo. A informatização, não garante a qualidade da informação. É preciso criatividade na forma e no conteúdo.

NOVO JORNALISMO
Porém, as revistas semanais de informação apresentam falhas. Aí surge o livro-reportagem, (New Journalism, nos EUA nos anos 60, no qual os repórteres produziam matérias frias com arte e emoção), para preencher os vazios informativos deixados pelo jornal, revistas, emissoras de rádio, noticiários de TV. O livro-reportagem é um trabalho de historiador e romancista. Trabalha com arte, emoção, aposta entre os aspectos objetivos e subjetivos da realidade. No Brasil o New Journalism, influenciou a Revista Realidade, lançada em abril de 1966. Suas reportagens preocupavam-se com o contexto e a situação em torno do acontecimento.