sexta-feira, 9 de março de 2007

JORNALISMO, E AGORA?

Quando se pesquisa a história do jornalismo, podem-se constatar alguns fatos estranhos a essa profissão. A imprensa brasileira desde os seus primórdios, foi formada por desocupados e desempregados, sem a menor aptidão pela profissão. Esses sujeitos se tornaram jornalistas pelo simples fato de serem indicados por amigos, geralmente, alguém influente na sociedade, ou que detinha algum poder político ou econômico.

Até o final da década de 1970, o Jornalismo no Brasil era sinônimo de subemprego. No entanto, as emissoras de rádio ou o jornal contratava funcionários públicos para observar os acontecimentos em seus setores, daí o nome “setoristas”. Por serem mal pagos pelo governo e pelos serviços prestados às empresas de comunicação, terminavam recebendo agrados pelas pessoas que os procuravam para resolver alguma situação pendente, ou resolver alguma situação irregular junto aos órgãos públicos. Por exemplo, Multas de trânsito, regularização de loteamentos, entre outros serviços.

A falta de ética e a prática promíscua entre o poder público e o jornalismo terminavam convivendo lado a lado. A regulamentação, parcial, das funções do jornalista, contribuiu para a redução desse tipo de conduta.

De acordo com o professor Sobrinho, a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, um dos berços da regulamentação da profissão, resistiram aos ataques da ditadura que pretendia substituir os professores encarcerados e cassados por “jornalistas” e professores que desfrutavam da confiança dos representantes da ditadura com assento na reitoria.

Com o Decreto-Lei 972/69 em plena vigência, é possível desvendar algumas razões subjacentes à campanha contra a regulamentação profissional. Em linhas gerais apontam para o descolamento da atividade de sua função social, tornando-a, parte de uma mera engrenagem de relações de trabalho assalariado.

Algumas emissoras de rádio e alguns jornais, ainda, são composta por profissionais e articulistas que defendem interesses próprios ou de suas organizações. No jornalismo impresso, essa prática é mais evidente nos pequenos jornais quando servem o desejo de alguns políticos locais.

O jornalismo televisivo apresenta uma distorção da essência jornalística, por colocar apresentadores que usam o vocabulário da área, entrevistam e falam a respeito de fatos usando o recurso sensacionalista.

O jornalismo online, tempo real, transforma as informações em fatos jornalísticos ou notícias, sem qualquer critério de noticiabilidade. Sem mencionar que os redatores na maioria das vezes desconhecem a que público se dirigem e por isso mesmo são responsáveis por redes de rumores e boatos que se disseminam pela rede sem a possibilidade de controle. A essência do jornalismo, representada pela apuração, inexiste.

No mercado profissional, algumas empresas, para se livrarem dos custos sociais de seus empregados, estão contratando jornalista com pessoas jurídicas que contratam outros profissionais, jornalistas autônomos, ou estagiários a custo irrisório. Dificilmente, não perderão o vínculo do jornalismo ético com a sociedade. E, sem falar de vários profissionais que se intitulam “jornalistas” para a sociedade, sem passar pela universidade, que lutam contra a regulamentação da profissão. E, enquanto isso, outros tantos, aproveitam a brecha da lei para obter o registro da profissão.

A prática jornalística é uma das formas de defesa dos direitos fundamentais do cidadão. Pode-se afirmar que seu objetivo final inclui a proteção dos direitos básico-éticos do indivíduo na sociedade. Seu compromisso maior é com o exercício pleno da cidadania. A ação jornalística procura dar a todos os membros da comunidade a possibilidade de acesso à informação e à opinião.

Por tanto, o acesso à comunicação não garante que todos a compreendam. E o jornalista, profissional capaz, tem capacidade, habilidade, competências técnicas de opinar, informar sobre temas complexos que permeiam na sociedade. Simplesmente, escrever em qualquer veículo de mídia (Internet, TV, Jornal, etc.), num formato jornalístico não garante que o conteúdo seja jornalístico.

A natureza do jornalismo está consubstanciada na apuração e na responsabilidade ética. O jornalista é o valor agregado que dá à informação o status de notícia por se tratar de um profissional compromissado com os seus fundamentos.

Segundo José Coelho Sobrinho, “A regulamentação, com certeza, não garante que o jornalista cumpra as obrigações idealmente inerentes à sua função social. Ela, por si só, não o credencia como defensor dos direitos do cidadão. Mas, a considerar a nossa história recente, é um instrumento que institui valores e comportamentos que resultam em segurança para as instituições que emanam da sociedade democrática”.